domingo, 2 de maio de 2010

[Conto do Oposto] Sentindo outro amor

O tão aguardado show da cantora que eu gosto era hoje! Sai mais cedo da faculdade, fiz limpeza completa no salão, me arrumei e fui buscar a Helena em casa. Antes, ela havia me telefonado perguntando se poderia levar sua prima conosco. O carro estava vazio, então, por que não?

Helena era uma amiga incrível. Prestativa, sincera. Éramos muito próximas desde antes da faculdade.

Quando estacionei na frente da sua casa, outra pessoa veio se aproximando do carro. Baixei os vidros, ela se inclinou sorrindo. O cheiro do seu perfume – ou seria seu natural? – invadiu o ambiente todo. Inclusive minha mente. Ela cheirava a jasmim.

- Oi! Eu sou a Amélia, a prima da Helena. Ela pediu pra te fazer esperar porque recebeu um telefonema importante. E mexeu nos cabelos. Eu estava... a palavra é... encantada com aquela criatura!

Sempre achei mulheres mais bonitas do que homens.. homem é muito “isso ou aquilo”, mulher tem beleza de sobra e em lugares inusitados. Tem charme, elegância, estilo. Tem curvas, trejeitos... enfim! Convidei-a para entrar, tranquei as portas e baixei o som. Começamos a conversar e descobri que além de belíssima, a Amélia era inteligentíssima. Contei a ela que provavelmente encontraríamos o meu ex na festa, que aquilo me apavorava pois tínhamos terminado a pouquíssimo tempo, então não sabia qual seria minha reação. Ela me confortou me elogiando muito, dizendo que eu me sentisse segura. Eu tive vontade de abraça-la. Mas ela nem me conhecia! Ia achar que eu era doida. Helena chegou, sentou no banco de trás. Resolvemos parar em algum lugar antes de ir ao show.

Sentamos num barzinho bacana, com musica ambiente e tal. A conversa fluía muito bem! Parecia que nos conhecíamos a muito tempo. Amélia para provocar Helena, num dado momento, se inclinou e cochichou ao meu ouvido. Descobri de onde vinha o cheiro de jasmim... dos seus cabelos longos. Levei um tempo para entender o que o sussurro daquela estranha havia causado em mim. Pedi licença e fui ao banheiro.

Ficar com meninas? Nunca tive vontade... ou já? Não sei. Acho que não... acho também que o que eu to sentindo pela Amélia não é atração! Porque eu não sinto vontade de cantá-la ou dar em cima dela... acho que é porque ela é bacana demais.. enquanto pensava e enxugava as mãos, ela entrou no banheiro.

- Tá tudo bem? Você saiu meio estranha da mesa... fiz alguma coisa...

Interrompi sua fala com um beijo. Acho que ela ficou mais surpresa que eu. Pedi desculpas, tentei explicar que estava sentindo uma atração estranha pela presença dela, que aquilo nunca tinha acontecido e que eu não quis desrespeita-la. Amélia passou a tranca na porta, me encostou na parede, passou a mão delicadamente pela minha nuca e pediu que eu não tivesse medo, que eu deixasse que ela me tocasse.

Suas palavras eram doces, suas mãos suaves. Não tive opção senão obedecê-la.

Uma de suas mãos passava pelos meus cabelos que eram afastados do rosto, a outra desceu pela minha cintura. Pedi que ela parasse. Não porque eu não estava gostando... mas pelo contrário.
- Vamos voltar. Helena não é boba. Vai sentir nossa falta.

Abri a porta e sai, sem reparar se ela tinha vindo comigo. Helena me olhou desconfiada, aproveitou que Amélia não estava e perguntou o que estava acontecendo. Respondi que nada, terminei minha caipirinha e fui pagar a conta. Quando voltei para a mesa, Amélia me encarava. E não eram olhos de desculpas, era um olhar de desejo. Senti calafrios e meu rosto ficando vermelho. Entramos no carro e ela foi no banco da frente. Me debrucei para pegar um cd no porta-luvas e ela segurou minha mão, beijando meu rosto.

Encarei-a por alguns instantes. A vontade de tocar-lhe os lábios estava ficando incontrolável. Parecia que eu podia ver Jane e Paula perguntando: Eita, quer dizer que tu é sapatona? Ri. Será que eu sou? O que determina que eu seja? Desejo pelo mesmo sexo? Se fosse isso, o desejo por Amélia estava me transformando em uma.

Tentei evitar o olhar de Helena pelo retrovisor, que tentava esconder o riso. Chegamos na casa de show. A primeira pessoa que encontro: Jorge e seus amigos. Todos eles olharam Amélia. Aquilo me incomodou. Não sei se por ciúme por não ter sido reparada ou por notar o desejo que eles nutriram por ela. Jorge me chamou para ficar com eles. Era uma boa fuga.

Amélia me puxou pelo braço e pediu que eu não fizesse isso. Seus olhos não me deixavam negar nada a ela! Que poder essa estranha exercia sobre mim?

Dispensei seu Jorge e sua trupe de amigos. Sentamos perto do palco. Quando o show ia começar, Helena diz que precisava encontrar Lucas. Quando fui guardar seu lugar, ela afirmou que não precisava. Entendi tudo.

Meu nervosismo subiu a flor da pele. As luzes se apagaram. Achei que o som que vinha do bambear do meu coração superava o do violão da cantora. Olhei para os lados, procurando alguém conhecido. Amélia toca minha mão. Aquilo não me lembrava nenhuma outra sensação que já havia experimentado. Tentei evitar seu olhar. Ela segurou meu queixo e tentou me beijar. Virei o rosto do beijo, mas permaneci encostada no dela. Respirei fundo, olhei-a e pedi para que conversássemos. Saímos do show, fomos para a área de fumantes, do lado de fora.

Sentamos em uma mesinha mais escondida. Ela pousou seu rosto sobre os braços, riu como uma menina, e pediu que eu falasse sem medos. Perguntei se ela era lésbica, se entendia o que estava acontecendo, porque eu nunca havia ficado com uma mulher. Delicadamente me explicou que o desejo está no ser, não no sexo. Que também eu não pensasse que toda mulher chamava a atenção dela. Que esse tipo de atitude não era dela, mas que ela procurava não negar seus instintos.

Conversamos, rimos, nos conhecemos mais. O show acabou, fui deixa-las em casa. Helena saiu do carro. Amélia não.

Puxou meu rosto com as duas mãos pra perto dos seus olhos e beijou a ponta do meu nariz. Tirei as mãos do volante e toquei-lhe a face. Pedi que ela fosse pra casa comigo. Riu como se estivesse esperando meu convite a noite inteira. Avisamos a Helena, que nada perguntou e entregou-lhe a copia da chave. Ela recusou.

- Acho que não vou precisar prima!

A frase dela me causou calafrios. Como assim? Será que ela ta pensando que vamos “dormir” juntas? Nunca nem beijei outra mulher... não sei nem o que fazer na hora... meu deus.. o que eu to fazendo? Enquanto pensava e mexia nos cabelos nervosas, ela tocou minha perna e deitou a cabeça no meu ombro.

- Amélia, não quero que você crie expectativas. Eu te convidei porque gosto da sua companhia... seu riso interrompeu meu papo filosófico e ela pediu que eu não me preocupasse, que tudo ia ficar bem.

Eu morava sozinha acerca de 02 anos. Abrimos a porta do apartamento e ela, como uma boa mulher, foi examinar cada detalhe artístico da casa. Deu sua opinião na disposição dos moveis e foi direto para o meu quarto. Olhei a geladeira e abri um vinho. “O que eu to fazendo? To querendo seduzir a moça? Ou me deixando ser seduzida por ela?”. Voltou para a cozinha descalça – isso me encantou! – e me ajudou a preparar um tira gosto. Sentamos no chão da sala e liguei o som baixinho.

- não ria, mas sou marinheira de primeira viagem... não to sabendo muito como agir.
- é natural, isso aconteceu comigo também.

Então me contou sobre suas primeiras experiências, de como se sentiu estranha e errada por desejar sua melhor amiga.

- depois de um tempo, você acaba percebendo que o que importa mesmo é que você ame alguém e seja amado por ela! Independente de quem seja... e então a opinião das pessoas fica em segundo plano. Quem te ama, vai te aceitar, sabe?

Como ela era linda! Seus lábios delicados em perfeita sintonia com o resto do seu rosto! Seus cabelos longos cobrindo seu decote que deixava seus seios de fora. Eu não estava mais olhando-a como amiga ou colega. Eu estava olhando-a como mulher. E eu a queria dessa forma.

Acho que ela sentiu meu desejo. Tirou a taça das minhas mãos. Veio pra perto de mim. Me olhou com carinho, colocou meu cabelo pra trás das orelhas e beijou minha testa. Descendo com múltiplos beijos até chegar na minha boca. Como era diferente beijar uma mulher! Como era delicado, macio, carinhoso. Correspondi seu toque, abracei-a junto a mim. Passei a mão por seus cabelos, quando ela dessamarrou meu vestido.

Senti vergonha. Ameacei parar. Ela tirou sua blusa. Olha-la era como estar diante de um espelho. Senti desejo de toca-la. Me aproximei... e toquei-a como gostaria de ser tocada. Amélia se contorcia de prazer, o que me matava de desejo. Ela tirou sua roupa e eu pedi para vê-la. Fiquei admirando-a por alguns segundos. Tirei a minha roupa. Nos tocamos. Não tinham segredos! Ela era uma parte de mim... eu sabia os caminhos a serem percorridos, sabia o que queria dela. Ela pediu para que eu deixasse que ela me beijasse.

Fomos pro quarto, deitamos na cama e ela foi descobrindo cada centímetro do meu prazer. A maciez de cada toque dela me enlouquecia. A ponta dos seus dedos delicados, sua língua nada áspera... pedi que ela me ensinasse a ama-la. E naquela noite, nossos toques nos bastaram. O êxtase que veio da nossa descoberta me embebedou de prazer. Ela me olhava satisfeita. Nos abraçamos, quis protege-la, deixa-la embaixo das minhas asas. Ela adormeceu primeiro. Eu estava muito nervosa e eufórica com aquele sentimento todo. Como ela parecia um anjo adormecido... vagarosamente tirei meus braços de debaixo da sua cabeça, enrolei-a e me levantei.

Juntei nossas roupas do chão, levei a garrafa e as taças para a pia e viajei no meu pensamento. O que havia acontecido naquela noite? Uma quase estranha estava deitada na minha cama. E não foi um sexo casual. Foi diferente, foi mágico. Aquilo bastaria para que eu assumisse algum tipo de sentimento que nascesse dali? E se de um encontro, passasse para um romance? O que eu faria?
Amelia levantou e me abraçou por trás, implorando para que eu não permitisse nenhum sentimento sobre julgamentos naquela noite. Abracei-a e fomos dormir.


Essa foi a minha primeira experiência lésbica. E foi com ela. Depois dessa noite, nos encontramos diversas outras vezes. Amelia e eu vivemos um romance intenso durante sua estadia aqui. Quando voltou para o Rio Grande, eu sofri. Porque além de amante, ela havia se tornado uma parceira, uma companheira. Prometemos nos escrever e nos vermos sempre que possível. Hoje, fazem 9 meses que ela se foi. E o seu cheiro de jasmim ainda está no meu travesseiro. Nunca mais senti desejo por outra mulher. Acho que se um dia eu sentir, vai ser estranho pois sempre irei comparar o que ela me apresentou. Nunca mais me julguei por isso. Algumas pessoas do meu convívio sabem. Algumas pessoas se afastaram de mim – principalmente mulheres – e eu percebi que em tudo isso foi bom pra mim. Amélia me ensinou a ser uma mulher completa. Sem medos, frustrações. Me apresentou um mundo novo de prazeres sexuais. Me tocou como nenhum homem jamais o fez. E eu pude ver nela, muito de mim.


Por Canela

4 comentários:

  1. Papoula...

    kkkkkkk!Esse conto do oposto,uhnnn...Muitooooo boomm o texto.kkkkkkk...Assim...eheheheh...deixa pra lá!!rsrsrs

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  2. O toque de uma mulher é distindo.A doçura e a beleza de seu corpo num é algo angelical.
    Espero q o conto do oposto consiga quebrar certas barreiras

    Por Jasmim

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  3. Além de oposto?
    Além de perfeito?
    Lindooooo

    Parabéns Canela


    Mandrágora

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  4. ôôô que fofo, ficou magico, bem romantico, adorei!! lindo lindo!

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